A Emissora Nacional de Radiodifusão (EN)

Artigo Publicado na “QSP – Revista de Rádio e Comunicações” de Agosto de 2010

A Emissora Nacional de Radiodifusão (EN) inaugurou oficialmente a sua actividade a 1 de Agosto de 1935. Este acontecimento deu-se uma década após as primeiras emissões regulares de rádio em Portugal e numa altura em que a rádio portuguesa vivia o seu primeiro período áureo. Obra do Estado Novo, a EN manter-se-ia sem desvios no seu rumo até o dia 25 de Abril de 1974.
Os primeiros passos para o nascimento da EN foram dados a 16 de Outubro de 1931, quando o Conselho de Ministros autorizou a Administração-Geral dos Correios e Telégrafos a abrir concurso para a construção de uma estação emissora de radiodifusão sonora em Onda Média e com a potência de 20 KW.
As primeiras emissões experimentais em Onda Média são efectuadas em Maio de 1932 e em Agosto de 1934 é a vez das emissões em Onda Curta, dirigidas às colónias e estrangeiro, através de um emissor de 500 Watts. Os primeiros estúdios são situados nas instalações de Barcarena, mas ainda em 1934 foram transferidos para o n.º 2 da Rua do Quelhas, onde se mantiveram até 1996.

A Inauguração da Emissora Nacional prolongou-se de 1 a 7 de Agosto de 1935, estando a locução e reportagens a cargo de Fernando Pessa, Áurea Rodrigues e Maria de Resende. Apesar de estar oficialmente inaugurada desde o dia 1, o Presidente da Republica, Óscar Carmona, só visitou a EN a 4 de Agosto. O programa oficial era recheado de pompa e circunstância, contando com nomes famosos da cultura, como João Villaret, José de Almada Negreiros, Amélia Rey Colaço, Palmira Bastos, Robles Monteiro, etc. A EN teve como primeiro presidente o Capitão Henrique Galvão que nesta altura ainda estava longe dos ideais que o levariam, em 1961, a desviar o paquete “Santa Maria”.
A Emissora Nacional – cujo lema era “Cantando espalharei por toda a parte” - copiava o modelo das suas congéneres europeias, em especial a B.B.C., mas não era um instrumento independente do poder politico, tendo sido concebida a pensar em controlar a informação que chegava às massas orientando-as na sua doutrina, pois era um instrumento privilegiado de propaganda.
As emissões da EN eram efectuadas por locutores de alta qualidade sendo parte delas preenchidas com concertos pelas orquestras da Emissora Nacional, por teatro radiofónico, palestras, notícias, etc. A EN criou, ainda, o Centro de Formação de Artistas da Rádio, de onde saíram grandes nomes da música portuguesa, e o Gabinete de Estudos Musicais, onde Joly Braga Santos, Ruy Coelho, e outros, criaram grandes composições.
Apesar dos 20 kW do emissor de Onda Média, a EN não era escutada em condições no Norte do país e para colmatar essa situação formou uma parceria com a Sonora Rádio, do Porto, que fazia de retransmissor. Esta parceria durou até ser instalado um emissor próprio da EN na cidade Invicta.


Nos anos que se seguiram à inauguração oficial da EN, foram feitas várias alterações no funcionamento da estação. Em 1937 a potência do emissor de Onda Curta foi elevada para 10 kW, o que demonstrava a importância dada às emissões para as colónias e para os emigrantes. Em 1940 a Emissora Nacional liberta-se da tutela da Administração-Geral dos Correios e Telégrafos e transforma-se num organismo autónomo, sendo publicada a lei que apresenta a primeira fase dos planos da radiodifusão nacional. Assim sendo, é instalado, provisoriamente, o Emissor Regional do Norte, no Palácio de Cristal, no Porto e fazem-se planos para a instalação de emissores regionais em Coimbra e Faro, além do aumento da potência dos emissores de Lisboa de Ondas Média e Curta. Em 1945 é criado o 2.º Programa (hoje, Antena 2) Em 1955 iniciam-se as emissões em Frequência Modulada, que em 1968 passariam a estereofónicas.
Até à revolução dos cravos, em 25 de Abril de 1974, a Emissora Nacional não sofreu grandes alterações organizacionais. O financiamento era garantido pelo Estado português, que por sua vez aplicava uma taxa de radiodifusão sonora aos possuidores de receptores radiofónicos.
Quando a 2 de Dezembro de 1975 é decretada a nacionalização das emissoras portuguesas, foi criada a Empresa Pública de Radiodifusão, um organismo que congregava todas as emissoras do continente, excepto a Rádio Renascença, a Rádio Altitude (Guarda) e a Rádio Pólo Norte (Caramulo). Em 1976, a nova empresa adopta o nome de RDP - Radiodifusão Portuguesa EP, estando obrigada a prestar um serviço público de rádio. A empresa organiza-se em 4 canais nacionais, 3 regionais para o Continente e 2 regionais para as Ilhas, além das emissões em Onda Curta, dedicadas aos emigrantes portugueses.

Nova reorganização interna é efectuada em 1979, sendo criada a Rádio Comercial que, juntamente com os programas emitidos a partir dos centros regionais, passa a transmitir publicidade, entrando assim em concorrência directa com os operadores privados. Nova transformação é efectuada em 1993, tendo sido privatizada a Rádio Comercial e a publicidade deixa definitivamente de ser transmitida nos canais da RDP. É adquirido um novo edifício nas Amoreiras, em Lisboa, que passa a abrigar os sectores técnico e de produção. Em 1994, cria-se a Antena 3. e a RDP é transformada em sociedade anónima de capitais exclusivamente públicos. No ano seguinte, surge a RDP África, um novo canal vocacionado para os países africanos de língua portuguesa. Em 1998, passa a dispor do sistema Digital Audio Broadcasting (DAB), mas que se limita a ser uma via alternativa para as emissões em Frequência Modulada. Por esta altura as emissões em Onda Média são, também, as mesmas da FM.
A última grande reorganização é feita em 2004, quando a Radiodifusão Portuguesa se funde com a Radiotelevisão Portuguesa, denominando-se a nova empresa pública de Rádio e Televisão de Portugal. Ao longo da última década, e dada a penetração da Internet, são criadas webradios temáticas, que se juntam às emissoras radiofónicas hertzianas da RTP.
Devido às fracas audiências e, também, à difícil situação económica portuguesa, a Rádio e Televisão de Portugal deu por terminadas as emissões em DAB em 2011 e fechou a RDP Internacional, colocando um ponto final a 75 anos de emissão em Onda Curta, a 01 de Junho de 2011.

Jorge Guimarães Silva

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Ultima actualização: 30 de Janeiro de 2016

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